Tanto que o plano dos players locais agora é mostrar que empresas do setor estão antenadas às necessidades da população e preparadas para brigar por preços menores

 

Nos últimos três meses, em plena pandemia do novo coronavírus, o clima é de reforma numa das lojas da maior rede de supermercados de Natal, na região Sul, não associada às bandeiras de fora.

Sem parar o atendimento, os corredores entre as gôndolas foram alargados, setores, como o de bebidas, totalmente reformulados; freezers novos instalados e até os corredores de hortifruti não escaparam às mudanças.

Todo esse investimento para um setor que opera com apertadas margens de lucro (2,5% em média) e num ano dos mais complicados, apesar de surpreendente, faz sentido para um segmento da economia considerado de utilidade pública.

Ao ajudar a restabelecer boa parte do PIB do terceiro trimestre, num ano caótico para as finanças da maioria das empresas, o setor supermercadista local abriu sua visão para novas possibilidades. Empregou mais do que qualquer outro e está bem.

Tanto que o Produto Interno Bruto do Brasil, divulgado esta semana pelo IBGE, cresceu 7,7% na comparação com os três meses imediatamente anteriores, boa parte, pela reação de setores como o de alimentação.

Isso foi suficiente para confirmar a saída do país da chamada “recessão técnica”, quando ocorre dois ou mais trimestres consecutivos de queda no PIB, pelo menos por enquanto.

Para o recém empossado presidente da Associação dos Supermercados do Rio Grande do Norte – Assurn -, Gilvan Mikelyson Delmiro de Gois (RedeMAIS), esse crescimento ficou entre 3,5% a 5% no RN, mesmo patamar médio obtidos no setor no ano passado, talvez até um pouco superior. Para o empresário, praticamente criado dentro de um mercado de varejo desde a juventude, o que ficou para trás nesse ano atípico já se sabe: as pessoas se isolaram em casa, consumiram mais e inflaram o tíquete médio dos mercados.

 

O problema é o ano que vem, com a possível descontinuidade do auxílio emergencial do governo e a demora de uma vacina aplicada em massa contra o coronavírus, “2001 se transformou incógnita”, resume o presidente da Assurn.

Tantas são as incertezas que existe até supermercado fazendo campanha para que as pessoas substituam os produtos mais caros por outro mais barato, afirma Gilvan. E por uma razão muito simples: o que é caro para o consumidor, também é caro para o varejista.

“Nós também gostaríamos de comprar menos o que é mais caro”, diz o empresário. Dentro desse contexto, o setor enfrenta outro problema e não é de hoje: o crescimento desenfreado da concorrência, fazendo com que muitas redes locais expandirem lojas para fora do município e até da região metropolitana.

“Eu mesmo tenho duas no interior”, diz. Com o mercado repleto de concorrentes, a saída dos menores foi o associativismo, a coexistência civilizada, que culminou na criação de associações para realizar compras consorciadas junto aos fornecedores e repassar descontos aos consumidores.

O delivery, para quem soube aproveitar e que deu um saldo expressivo na pandemia, também valeu à pena, fazendo as empresas prestarem mais atenção no segmento considerado pouco importante no passado.

O resultado foi que os supermercados locais passaram a aprimorar seus serviços a fim de explorar justamente a deficiência das grandes redes varejistas, mais impessoais na forma de atender.

Só nesse segmento em Natal, o crescimento as entregas em domicílio em relação ao primeiro semestre do ano passado pode ter passado de 200%, segundo avaliação de profissionais do setor ouvidos pelo Agora RN.

Entre os que acreditam nessa disparada do delivery nessas proporções está João Marinho Dantas, secretário-executivo da Associação dos Supermercados do Rio Grande do Norte (Assurn), que ocupará o cargo até o final do ano, quando se transfere para São Paulo. “Não há um número oficial, até porque é um dado estratégico das empresas que elas não fornecem, mas a partir das informações de apps e das iniciativas a partir do WhatsApp, o meu sentimento é que a pandemia tenha mesmo alavancado um crescimento do delivery a patamares em que não haverá retorno”, acredita Marinho.

Hoje, segundo o presidente da Assurn -, Gilvan Delmiro de Gois, o segmento dos supermercados já alcançou seu limite faz tempo. Ele entendert entender porque o Nordestão, maior rede local, resolveu abrir sua mais nova loja em João Pessoa, na Paraíba, e não em Natal, Parnamirim ou Mossoró.Para ele, a interiorização é a tendência das redes locais e ela não tem volta. Já a concentração de mercado, que é quando uma rede maior incorpora uma menor, foi algo muito sutil na região metropolitana de Natal, com exceção de um ou outro caso.

“Isso fez com que os empresários esquecessem há muito tempo a se preocupar com o concorrente do outro lado da rua e passassem a pensar e a agir como um setor organizado”, acredita Gilvan.

 

Fonte: Marcelo Hollanda/ Agora RN