Executivos ligados a aplicativos de entrega e empresários do setor de supermercados avaliam que o sistema de delivery já é uma tendência considerada irreversível e faz crescer a importância a função de separador de pedidos; empresa do setor calcula que o modelo tenha aumentado por volta de 4% da fatia de vendas das lojas físicas em Natal
Entregadores aguardando pedidos em supermercado de Natal: cena é cada de vez mais comum em razão da pandemia do novo coronavírus (Foto: Ney Douglas/Agora RN)
Só no segmento dos supermercados de Natal, o crescimento de delivery em relação ao primeiro semestre do ano passado já é de 200%, segundo avaliação de profissionais do setor ouvidos nesta quarta-feira pelo Agora RN.
Entre os que acreditam numa disparada do delivery desse tamanho está João Marinho Dantas, secretário-executivo da Associação dos Supermercados do Rio Grande do Norte (Assurn).
“Não há um número oficial, até porque é um dado estratégico das empresas que elas não fornecem, mas a partir das informações de apps e das iniciativas a partir do WhatsApp, o meu sentimento é que a pandemia tenha mesmo alavancado um crescimento do delivery em torno de 200% em relação ao mesmo período do ano passado”, confirma Marinho.
Ele calcula que em Natal essa demanda tenha aumentado por volta de 4% da fatia de vendas de uma loja física para usar uma régua conservadora, o que é muito para não configurar uma tendência consolidada do mercado forçada pela pandemia do coronavírus e da política de isolamento social.
Essa expansão no serviço de entregas deu visibilidade a um personagem fundamental nessa operação: o separador de pedidos, já que dependerá dele a resposta direta do consumidor ao serviço.
“Como tem pessoas que adoram passear pelos corredores de um supermercado, há quem deteste e para atender esse segmento, que não é pequeno, esse profissional se tornou primordial na operação”, afirma.
Um problema a mais para o RH das empresas, mas com recompensa é garantida. Tanto como o entregador, o separador é fundamental no processo na medida que dependerá exclusivamente dele a satisfação do cliente de repetir a compra virtual e agregar produtos ao pedido.
“Tem cliente que gosta da fruta mais verde do que madura; outros preferem o queijo cortado em fatias mais finas do que grossas; tem cliente que precisa de uma boa sugestão de hortaliça para substituir àquela que ele não encontrou ou agregar itens que até ele não tinha pensando em comprar – e tudo isso depende do separador”, explica Marinho, um administrador de empresas com MBA em Gerenciamento de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas e a Escola de Administração de Empresa de São Paulo.
“Em contato com associados tenho ouvido histórias muito interessantes sobre a figura do separador que conseguiu transformar uma compra de R$ 300,00 em R$ 900,00 depois de ver suas sugestões acatadas pelo cliente”, afirma.
No começo da pandemia no Brasil, quando as compras físicas dispararam nos supermercados, nem houve muito tempo para se pensar no delivery. Mas, na medida quer os decretos de distanciamento social iam sendo renovados pelas autoridades estaduais, os pedidos de entrega em domicílio dispararam.
Nesse particular, aliás, Marinho dá um conselho para o empresário que apostar no delivery: tenha sempre o mesmo separador por cliente. A outra dica: opte por aplicativo antes de enveredar pelas vendas por WhatsApp. “O consumidor adora ver o que está comprando”, ensina.
Mudanças
Reuniões da Associação Brasileira dos Supermercados que ocorriam mensalmente entre representantes regionais de todo o país, estão acontecendo semanalmente e até a cada três dias por videoconferência. Para João Marinho Dantas este é apenas o reflexo de um setor que, com a pandemia, teve o grau de exigências aumentado com a pandemia.
“Embora tenha sofrido economicamente menos do que outros segmentos obrigados a fechar as portas por conta do isolamento social, os supermercados tiveram que se adaptar mais rapidamente a uma série de protocolos sanitários”, afirma.
Dantas, que escreveu um artigo sobre assunto para uma publicação regional do setor, lembra que desde os anos de 1990 se fala muito em supermercado virtual, vendas por delivery e varejo de supermercados pela internet.
“Mas só agora caiu a ficha de boa parte do setor que o consumidor virtual, com a pandemia, veio para ficar – e será preciso entende-lo e tirar o melhor proveito desse cliente que detesta ir ao supermercado, mas só agora está disposto a gastar mais de casa se for atendido adequadamente”, afirma.
Uma pesquisa realizada em 36 países mostra que no Brasil 53,4% dos consumidores compraram alimentos pela internet no ano passado e 50,3% optaram por serviços online de entrega dos produtos.
Segundo o estudo Global Consumer Insights Survey 2020, da empresa PwC, com o isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus, 35% dos consumidores estão comprando alimentos pelos canais online e 86% planejam continuar assim após o final das medidas de isolamento social.
O que há de errado nos decretos de isolamento, segundo empresários
Um dos defeitos que os empresários de Natal enxergam nos protocolos das autoridades para flexibilização do comércio durante a pandemia do coronavírus é, invariavelmente, a limitação de entrada de mais de uma pessoa da mesma família no estabelecimento. Isso tem forçado as pessoas a usarem o artifício de se separarem na entrada para se reunirem só dentro da loja.
Para o empresário Sérgio Cyrne, da Iskisita Atakado, fundada em 1967 e com mais de 600 colaboradores e quatro lojas em Natal, se os tamanhos em metros quadrados das instalações permitem um determinado número de clientes juntos aos funcionários, por que então não controlar apenas o número total de clientes ao invés da quantidade de pessoas de uma família?
“Esse é um grande problema para o lojista que poderia estar resolvido, já que as pessoas costumam por tradição sair em família para as compras”, acrescenta.
Segundo o empresário, uma vez dentro da loja, é impossível controlar com quem as pessoas falam no interior das lojas, já que muitas podem se conhecer e manter uma distância inferior a um metro.
Nada que não aconteça nas calçadas do Alecrim, diz Pedro Campos, empresário do bairro, que até recentemente presidiu associação de classe local.
“Aqui, as lojas estão cumprindo à risca o decreto de distanciamento, inclusive muitas deles fixarem uma compra consorciada de 300 termômetros digitais para monitorar a temperatura de clientes nas frentes de loja. O problema é que não podemos controlar o que acontece nas calçadas”, afirma.
Fonte: Marcelo Hollanda/Agora RN
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